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terça-feira, 1 de março de 2011

ATROPELAMENTO EM MASSA CRÍTICA

Sobre o ocorrido em Porto Alegre na última sexta é interessante avaliar alguns pontos do episódio e do seu decorrer até então. Foi dito que houve excessos de ciclistas e motorista. É comum em movimentos de natureza ideológica haver radicalismos. No caso, os ciclistas transitavam pelas 3 vias da rua, caso tivessem liberado ao menos uma delas, provavelmente este fato não teria acontecido.

Conforme relatos dos participantes, o carro e alguns ciclistas já vinham “trocando farpas” e, segundo o carona, filho do motorista, “não foram eles (os ciclistas) que começaram (a discutir), meu pai foi um pouquinho antes. Só que aí começaram a bater a fu no carro. Aí, depois que se entenderam, três caras ficaram na frente do carro trancando só ele, só ele”. Sendo assim, o motorista poderia ter buscado um caminho alternativo, outra rota para alcançar o seu destino, o que não aconteceu, preferindo então alimentar a discórdia.

O responsável pela Divisão de Crimes de Trânsito da Polícia Civil, na capital gaúcha, Gilberto Almeida Montenegro, disse que “o grupo poderia ter comunicado a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação) e a Brigada Militar sobre o passeio”. Sobre isso, achei interessante o que li de um ciclista. Dizia o seguinte:

“Isso não me parece fazer sentido, e por dois motivos: o primeiro é que o Massa Crítica se reúne TODA última sexta-feira do mês já há bastante tempo (une centenas de ciclistas), fico surpreso com o desconhecimento do senhor diretor; e o segundo é que se essas mesmas pessoas resolvessem se encontrar no mesmo lugar em que se encontraram na sexta-feira, no mesmo horário e percorrerem as mesmas ruas, de carro e não de bicicleta, não precisariam “pedir” nada para a EPTC. Bicicleta não é meio de transporte, não é veículo? Ciclista não é um personagem do trânsito como outro qualquer?”

Lamentavelmente vivemos em uma cultura do capital e da idolatria ao automóvel, onde se estimula à profunda paixão às máquinas e induz pela mídia que as tratemos como “sonhos de consumo”. Quando se entra no carro, protegidos por uma armadura metálica e a força de muitos “cavalos”, muitos são tomados pela sensação de poder e direito de cometer infrações, desrespeitos, provocações e, neste caso, a tentativa inquestionável de um assassinato em massa. Define-se o VALOR da pessoa diretamente proporcional ao PREÇO do veículo, o que demonstra a pobreza de espírito daqueles que compartilham desta ilusão.

A própria legislação de trânsito, confere a PREFERÊNCIA à bicicleta sobre veículos automotores, conforme o artigo 58, que define no artigo 58 que “nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores.”

Independentemente do que tenha levado o motorista a tal atitude, nada, ABSOLUTAMENTE NADA justifica este ato criminoso, por maiores que tenham sido os excessos por parte dos ciclistas.

Motoristas devem levar em consideração que o carro já os fazem se deslocar com maior rapidez e o fato de aguardar alguns minutos, ainda mais por uma justa reivindicação, não pode ser usado como pretexto de um atropelamento em massa. Sabemos também que muitas pessoas realmente não utilizam as vias públicas com segurança, mas a busca pela conscientização jamais será efetiva através de ofensas ou qualquer outro tipo de excesso.

O lado positivo disso tudo (sim, sempre há um lado positivo) é que este episódio será um marco ETERNO das mobilizações sociais em repúdio à violência e à falta de um planejamento cicloviário eficiente e sensibilizará muitos que até então nem percebiam que exitem veículos que não são motorizados e que possuem os mesmos direitos de mobilidade.




Leandro Karam

Professor, Biólogo e Coordenador do Projeto Pedal Curticeira-Pelotas-RS

Um comentário:

  1. EXCELENTE O POST!!!
    A legislação brasileira é ÓTIMA; até EXEMPLAR. Pena o executivo e judiciário não funcionar, haha.
    Espero que fique mesmo marcado e que apesar do ocorrido, isso traga mais fatores positivos do que negativos.

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