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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

POR QUE EU PEDALO?




Há cerca de um ano eu estava vivendo um contexto no qual sempre fui bastante crítico, a rotina. Sou bacharel e licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) por sempre ter uma aproximação física e espiritual muito forte com o meio natural, campesino. E desde criança minha sensibilidade ao contemplar estas belezas bucólicas foi muito aguçada. Na chácara de meu avó em Bagé-RS, na estância de tios do meu pai, próximo à fronteira com o Uruguay tive experiências que raras as crianças que hoje em dia podem desfrutar.


Eram madrugadas em meio ao nada, pescando defronte ao açude e ao redor apenas de coxilhas recobertas de pasto e algumas cabeças de gado, ali aprendi a ouvir o silêncio e apreciar sua poesia. Aprendi também a fazer bodoque (estilingue), ouvi histórias de assombração de meu primo em frente à lareira, busquei água no poço, acordei cedinho e tomei “nescau” com leite ordenhado por mim mesmo, fiz casa na árvore, andei a cavalo com meu irmão pelas estadas ao redor da chácara, aprendi como se cuida de uma horta, como se planta uma árvore e até mesmo identificava muitos pássaros que por lá revoaram com auxílio de um catálogo de aves do meu tio. Tudo isso me deixava maravilhado com a beleza deste mundo e me causava uma ânsia em cada vez conhecer mais e mais desse planeta tão perfeito e harmonioso.


Durante minha adolescência ganhei minha primeira bicicleta, lembro até hoje do quão feliz eu fiquei com minha freestyle com aros de nylon. Com ela pude ganhar nas ruas o sentimento de liberdade e de fácil acesso a qualquer lugar. Nela eu ia pra escola, visitava meus amigos e quase todas as tardes encontrava com a galera na pistinha de bicicross da cidade de Venâncio Aires-RS, quando comecei a me aventurar em algumas competições. E não é que sempre incomodava aqueles “paitrocinados” com bikes de alumínio com quadro búfalo (aquele quadradinho). Tive a alegria de conquistar várias medalhas de 2º, 3º ou 4º colocado em corridas tanto em Venâncio Aires como nos arredores, como em Santa Cruz do Sul, Estrela, Lajeado e também onde ganhei meu primeiro troféu de vencedor, em Roca Sales, corrida em que todos competidores se engalfinharam na primeira curva, exceto eu que contornei por fora, desviando de todos e administrando minha liderança até o final. Primeira emoção de estar no topo do podium, memorável.




Acho que fiquei em 3º lugar, se não me falha a memória.


Muito tempo passou quando morando em Pelotas ganhei minha primeira bicicleta com marchas, era uma ALTUS C-10 de 21 velocidades. Inspirado em algumas viagens que meu irmão havia feito (Pelotas-Bagé; POA-Serra do Rio do Rastro, etc) me aventurei com ele por algumas estradas da serra pelotense. Nestas empreitadas soube o que era pedalar algo em torno de 50km em uma tarde inteira, o que para um adolescente representava um grande desafio, considerando que pilotava uma bike quase que inteiramente de ferro e sem as tecnologias atuais que tanto dão conforto e rendimento ao ciclista.



Por razão dos caminhos da vida, larguei a bike durante a universidade e a usava para pedais modestos de uns 10 ou 20km pelo perímetro urbano da cidade.



Ao fazer concurso público no município de Biguaçu, passar e ser convocado, acabei jogando o que tinha em Pelotas para o alto e mergulhei no desconhecido. Jamais havia pisado por estas bandas, jamais havia lecionado em escola pública e também para adolescentes, jamais tivera a experiência de morar sozinho, pagar minhas contas, etc.

Após um ano totalmente envolvido pela rotina de aulas eu já havia me adaptado ao novo labor e passei a exibir meus dotes musicais em alguns bares da região com minha voz e meu violão e pude conhecer muita gente neste meio. Porém ainda tinha algo que não estava me aquietando. Sentia muita falta daqueles cenários contemplativos, da natureza, da contemplação e daquele sentimento de liberdade que experimentei em outros tempos.

Mesmo morando em uma cidade mundialmente reconhecida por suas belezas naturais ainda as sentia muito distantes. Já incomodado com a rotina, foi quando repentinamente tive um insight, um estalo na cuca. Sei que estou ainda um tanto distante do matrimônio, visto que minha corrida pela estabilidade está no seu ápice e os frutos que hoje cultivo amadurecerão somente em futuras primaveras... O jeito então é comprar uma bicicleta! Foi aí que percorri todos estabelecimentos comerciais da Grande Florianópolis e fui parar numa tal de Ciclovil Bikes no bairro Campinas em São José e falei com um cara chamado João, que logicamente também curte umas pedaladas e seguidamente lhe faltava parcerias para pedalar.

Há pouco mais de um ano fiz minha primeira pedalada após quase dois anos sem subir numa bicicleta. Lembro que peguei a magrela na loja e me toquei deslumbradamente do continente (bairro Kobrasol) ao sentido sul da ilha, indo parar somente na beira da praia da Armação, estarrecido pela minha conquista. Cada pedalada era uma dor que me libertava e me fazia sentir a mesma criança que fui quando ganhei as ruas com a minha freestyle e suas rodas de nylon. No meu retorno, cada dor muscular se transformava em gritos de desabafo, de liberdade, de vitória. Não era por menos. Parado há tanto tempoe repentinamente pedalar 70km não é algo lá muito comum.


Desde então comecei a explorar cada estrada, cada trilha que esta grande Florianópolis me apresentava. Vezes sozinho (na maioria delas), vezes acompanhado passei a desbravar a região e buscar cada vez desafios maiores e morros mais desafiadores. Aos poucos fui sentindo minha evolução nos pedais, aprimorando as técnicas de mudança de marcha, pedalando com o pessoal mais experiente aprendi e continuo a aprender muito.




O ponto culminante foi quando percebi que tinha potencial inclusive competitivo. Conseguindo acompanhar grupos de alto nível aqui da região, o que me fez sentir cada vez maior confiança nesta prática. Assim, mais um universo se abriu no meu caminho. Universo este ainda muito incipiente e que me reserva infinitas surpresas, alegrias e ensinamentos.







Não posso esquecer que nesse entremeio todo pude conhecer pessoas maravilhosas, saudáveis e que assim como eu, anseiam em viver a vida plenamente e compartilham comigo muitas dessas alegrias de conhecer lugares novos, de ajudar e incentivar quando alguém está prestes a desistir, propor novos desafios e viver cada momento de forma leve a alegre.


 

 

Se alguém me perguntar por que eu ando de bicicleta, nem saberia por onde começar a responder. Acho que a melhor resposta seria... Pedalo porque busco sempre o desconhecido, porque busco sempre um novo desafio, porque quero ter um corpo e mente saudáveis, porque quero fazer cada vez novos e melhores amigos, porque quero contribuir para um ar puro para meus pulmões, porque quero ir onde minhas pernas possam me levar, porque pedalar me faz sentir criança, me rejuvenece, porque me emociona, porque tenho a contemplação da natureza como fonte de energia vital e de inspiração pra vida,  porque a vida é como andar de bicicleta... para se manter em equilíbrio é necessário estar em movimento. É por isso que eu pedalo!!!



 



Um forte abraço!!!

4 comentários:

  1. Oi Leandro, parabéns pelo blog!

    Vale a pena publicar tuas aventuras.

    Bjs,

    ªDri

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  2. E aí Karam! Meu velho, baita texto, cara!! Eu adoro pedalar, mas infelizmente minha rotina não permite eu desfrutar disso como gostaria. Mas também sei que é algo que retornarei a fazer.
    Muito bom o teu relato, me identifiquei muito em várias partes, principalmente nas ruralidades.
    Fico aqui louco pra dar uma volta na clássica Caloi Aluminum Elite '94(tunada), mas o tempo também não anda ajudando... hehehe
    Abração! Diogo Sanes

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  3. Leandro, ler os teus textos é inspirador, a paixão pelo pedal fica evidente e transcende a tela do computador, dá a nítida impressão de estar pedalando contigo!!
    A tua forma de escrever é impressionante, segue essa narrativa e assim continua transmitindo toda essa beleza e emoção.
    Te acompanhar através dessas leituras só vem confirmar o que eu sempre soube, tu és uma pessoa ímpar!!!
    Já estou curiosa aguardando o próximo post.
    Bj Ana Paula (ah e se eu for mesmo fazer o doutorado em Floripa, vou querer que tu divida uma pouco disso tudo comigo)

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  4. Leandro

    Pra conhecer alguem de verdade é preciso saber como ele se sente andando de bicicleta.

    Abç

    Juliane

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