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sábado, 9 de outubro de 2010

Cicloviagem Pelotas – Santana da Boa Vista – “O RETORNO”



Bueno...

Como estava a lhes relatar... Fomos recebidos pelo anfitrião “Pingo” que nos conduziu a sua casa para deixarmos as bikes antes de sairmos com ele para um tour pela cidade, principalmente por aquela que é uma das principais atrações turísticas local, a famosa “Toca da Tigra”, onde se deu o início da história do município de Santana da Boa Vista e guarda uma impressionante lição de fé e devoção.

Um medicinal e reparador banho após a viagem em conjunto com a mesa posta para um belo e completo café resulta em novo fôlego para continuar nosso passeio a, até então, desconhecida Santana da Boa Vista (SBV).

Santana e a "Boa Vista".

Pingo nos levou gentilmente ao Parque Municipal da Toca da Tigra e como um bom santanense por natureza, nos relatou esta história que aqui compartilho com vocês.
Resumidamente, tudo começou quando Jacinto Inácio da Silva, de origem açoriana, por volta de 1819, ao passar por uma gruta se deparou com um animal no qual se referiu como “tigra”. Porém, de acordo com a bioregião em questão, é de maior probabilidade que se tratasse de uma onça ou de um leão-baio (também chamado de onça-parda). O felino teria desferido um ataque ao homem que vinha acompanhado de seu cachorro. Repleto de astúcia, destreza e bravura, Jacinto teria usado uma árvore como obstáculo ao ataque da onça e por alguns minutos teriam os dois “mamíferos” feito uma espécie de dança ao redor do vegetal durante a perseguição. Ao longo de turbulentos minutos de tensão e medo da morte, o aventureiro em uma prece silenciosa invocou a proteção de Santa Ana, apelando sua salvação e prometendo a si mesmo que, se triunfasse perante aquele derradeiro momento, doaria uma porção de terras onde faria uma capela para a santa.

A toca.

A "tigra".

Em um lampejo de companheirismo, seu fiel cão conseguiu atrair por instantes a atenção da onça. Tempo que Jacinto teve de, com seu punhal, atingir por trás o grande bichano e contornado a situação de “quase-morte”, realizando então aquilo que seria praticamente um milagre.

Ali foi construída uma capela onde, ao seu redor, se instalou o povoado de “Santa Ana da Boa Vista”, área originalmente chamada de “Faxinal”, ainda pertencente a cidade de Caçapava do Sul e, desde o dia 1º de novembro de 1821, torna-se o emancipado município de Sant’ana da Boa Vista.


A capela.


Atravessar essa ponte balança os sentidos.

Pedalar é muito mais do que andar de bicicleta.

Em meio a relatos históricos e apresentação dos estabelecimentos do parque podemos conhecer e nos envolver um pouco mais com a cidade, mas tudo isso nos deixara com uma fome de “leões-baios”.

A partir daí teríamos a última missão do dia que era passar no mercado e comprar aquilo que nos faria sentir um prazer quase que sexual naquele final de sábado, “comida”.

Como bons atletas, qual seria o melhor cardápio? Exatamente!!! Uma bela de uma macarronada. Pingo segura um pacote de massa e pergunta se ta bom. Respondo: pra mim é o suficiente, e pra vocês?!? Percebendo a malícia do comentário, assegura-se da suficiência e lança mão de mais dois pacotes. Satisfeito com a atitude, parabenizo-o pela sua perspicácia.

Hora de tomar uma cervejinha pra relaxar, contar um pouco de causos e dar seqüência ao ritual da reposição energética.

Horas depois, já meio que batendo aquela tristeza boa, me preparo pra ir ao encontro dos “pelêgo”. Já sonhando acordado com o travesseiro, Vinícius me convida pra acompanhar a filha do Pingo, Nicole, em uma festa que teria na cidade. Caso não estivesse às vésperas de me tornar um balzaquiano, tivesse a mesma disposição de vinte e um anos do meu companheiro, o teria acompanhado. Mas a esta altura da vida, me interessava mais em repousar e me recuperar para a empreitada do dia seguinte, nosso retorno, que começaria bem cedo e seria provavelmente mais árduo do que fora a ida.

Não lembro exatamente o que houve depois de entrar no quarto. Lembro apenas de acordar domingo na mesma posição que tinha “despencado” na cama na noite anterior e minha cabeça já começava a imaginar muito asfalto pela frente antes mesmo de eu abrir os olhos.

Rose, a esposa de pingo, já havia levantado da cama e feito os primeiros movimentos da casa. Vinícius também já se apresentava animado e me contava um pouco de suas peripécias noturnas em SBV. Haja disposição!!!

Tomamos um cafezão bem reforçado, nos fardamos para a viagem de volta, acordamos o Pingo para a “despedida oficial” e nos tocamos do centro de SBV exatamente as 8:30 da manhã.

A despedida.

O complemento humano.

Ainda não tinha realizado em minha mente o fato de que teríamos todos aqueles quilômetros pela frente mais uma vez e meus joelhos mal haviam repousado e já estavam sendo exigidos. Confesso que nos primeiros 20 ou 30km na volta minhas emoções e sentimentos se embaralhavam entre satisfação e angústia.


Mas nada melhor do que um quilômetro após o outro. Nestas horas a gente percebe o quanto o companheirismo é importante e acolhedor. Conversando com meu companheiro de viagem e comigo mesmo apreciava cada paisagem daquela estrada, percebia a imensidão solitária e terna daqueles campos infinitos em meio a morros que se perdiam no horizonte.

Quando a gente sabe o tamanho do desafio e percebe a sua grandeza se torna necessário reorganizar as estratégias. A minha forma de encarar o grande inimigo de quase 150km era dividí-lo em partes e transformar aquela grande guerra em pequenas batalhas e vivenciá-las uma a uma, saboreando cada etapa desta evolução.

Em minha mente, Canguçu era o destino final. Visto que de lá até Pelotas nos eram reservadas mais descidas do que subidas. No entanto, do Rio Camaquã até Canguçu seria uma longa, lenta e discreta subida de algo em torno de 60 a 70km e, de lá à Pelotas cairíamos vertiginosamente.

Como toda “indiada” que se faz nos reserva surpresas. A nossa, naquele momento, foi perceber que o vento estava vindo do leste, soprava forte e nos atingia meio de lado de forma um pouco desconfortável. Até aí estava tudo em quase plena harmonia até virar de vez e soprar diretamente do sul, nos batendo, agora sim, “no meio da cara”. Que animadora constatação!!!

Entre ventos e pensamentos, pedalamos muito tempo em silêncio e quase que sem fazer paradas. Queríamos mesmo era chegar de uma vez em casa. A brincadeira já não tinha mais a mesma graça e o cenário era o mesmo do dia anterior. Remédio? Mente quieta e coração tranqüilo!!! "O que não tem remédio, remediado está."

Finalmente chegávamos a Canguçu com ar de triunfo e uma fome do tamanho dos quilômetros que deixamos para trás. Parada no “Alemão”, torrada completa, um litrinho de coca-cola, um mico de “astronauta” no restaurante lotado e “bora rumo às casa”.

Última parada: Canguçu.

Quem já saiu a “camperear” à cavalo entende o que vou dizer. Depois de percorrer milhas e milhas, desgastar muito e mais um pouco, estar com um palmo de língua pra fora... quando se percebe que ta chegando nos pagos de origem, o bicho tira energia sei lá de onde e imprime um ritmo mais intenso do que o que manteve em todo o percurso.

Passando o pedágio de Canguçu já me sentia praticamente em casa. Descidas e mais descidas velozes e subidas em que me “atracava” com toda a “alma castelhana”.

Berga's stop.

Chegando ao trevo de acesso à Pelotas fomos recepcionados por um engarrafamento quilométrico em razão do asfaltamento de um trecho da estrada. “Costuramos” todos os carros e pedalamos até a Avenida Duque de Caxias onde, na altura do IF-SUL, me despedi do Vinícius que transcendia em sua expressão o sentimento de vitória, de conquista e superação.

Como já mencionou Lance Armstrong, os “desafios são temporários”, porém quando os encaramos com persistência e firmeza no pensar e conseguimos chegar até o final a recompensa é fenomenal e o aprendizado é eterno. Querer, planejar, executar e vencer!!! Depois disso é só se esbaldar com as memórias, rir das dificuldades superadas e dos episódios atípicos e buscar passar adiante esta idéia-força!!!

Agradeço ao Vinícius pelo companheirismo e ao vereador Pingo e sua família pela hospitalidade. Todos se mostraram grandes amigos. Agradeço acima de tudo a Deus por me fazer concluir este desafio. Só mesmo estando lá para saber a que me refiro.



Um grande abraço e até a próxima aventura. Ou quem sabe desventura?!?



Que o “grande mistério” o decida!!!



Leandro Karam

2 comentários:

  1. Já dizia Einstein:

    "Viver é como andar de bicicleta: é preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio."

    Beijosss

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  2. "Indiada" muito bem descrita!! Esses teus posts são sempre inspiradores e divertidos, muito bem caro amigo!!! bjs

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