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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

POR QUE EU PEDALO?




Há cerca de um ano eu estava vivendo um contexto no qual sempre fui bastante crítico, a rotina. Sou bacharel e licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) por sempre ter uma aproximação física e espiritual muito forte com o meio natural, campesino. E desde criança minha sensibilidade ao contemplar estas belezas bucólicas foi muito aguçada. Na chácara de meu avó em Bagé-RS, na estância de tios do meu pai, próximo à fronteira com o Uruguay tive experiências que raras as crianças que hoje em dia podem desfrutar.


Eram madrugadas em meio ao nada, pescando defronte ao açude e ao redor apenas de coxilhas recobertas de pasto e algumas cabeças de gado, ali aprendi a ouvir o silêncio e apreciar sua poesia. Aprendi também a fazer bodoque (estilingue), ouvi histórias de assombração de meu primo em frente à lareira, busquei água no poço, acordei cedinho e tomei “nescau” com leite ordenhado por mim mesmo, fiz casa na árvore, andei a cavalo com meu irmão pelas estadas ao redor da chácara, aprendi como se cuida de uma horta, como se planta uma árvore e até mesmo identificava muitos pássaros que por lá revoaram com auxílio de um catálogo de aves do meu tio. Tudo isso me deixava maravilhado com a beleza deste mundo e me causava uma ânsia em cada vez conhecer mais e mais desse planeta tão perfeito e harmonioso.


Durante minha adolescência ganhei minha primeira bicicleta, lembro até hoje do quão feliz eu fiquei com minha freestyle com aros de nylon. Com ela pude ganhar nas ruas o sentimento de liberdade e de fácil acesso a qualquer lugar. Nela eu ia pra escola, visitava meus amigos e quase todas as tardes encontrava com a galera na pistinha de bicicross da cidade de Venâncio Aires-RS, quando comecei a me aventurar em algumas competições. E não é que sempre incomodava aqueles “paitrocinados” com bikes de alumínio com quadro búfalo (aquele quadradinho). Tive a alegria de conquistar várias medalhas de 2º, 3º ou 4º colocado em corridas tanto em Venâncio Aires como nos arredores, como em Santa Cruz do Sul, Estrela, Lajeado e também onde ganhei meu primeiro troféu de vencedor, em Roca Sales, corrida em que todos competidores se engalfinharam na primeira curva, exceto eu que contornei por fora, desviando de todos e administrando minha liderança até o final. Primeira emoção de estar no topo do podium, memorável.




Acho que fiquei em 3º lugar, se não me falha a memória.


Muito tempo passou quando morando em Pelotas ganhei minha primeira bicicleta com marchas, era uma ALTUS C-10 de 21 velocidades. Inspirado em algumas viagens que meu irmão havia feito (Pelotas-Bagé; POA-Serra do Rio do Rastro, etc) me aventurei com ele por algumas estradas da serra pelotense. Nestas empreitadas soube o que era pedalar algo em torno de 50km em uma tarde inteira, o que para um adolescente representava um grande desafio, considerando que pilotava uma bike quase que inteiramente de ferro e sem as tecnologias atuais que tanto dão conforto e rendimento ao ciclista.



Por razão dos caminhos da vida, larguei a bike durante a universidade e a usava para pedais modestos de uns 10 ou 20km pelo perímetro urbano da cidade.



Ao fazer concurso público no município de Biguaçu, passar e ser convocado, acabei jogando o que tinha em Pelotas para o alto e mergulhei no desconhecido. Jamais havia pisado por estas bandas, jamais havia lecionado em escola pública e também para adolescentes, jamais tivera a experiência de morar sozinho, pagar minhas contas, etc.

Após um ano totalmente envolvido pela rotina de aulas eu já havia me adaptado ao novo labor e passei a exibir meus dotes musicais em alguns bares da região com minha voz e meu violão e pude conhecer muita gente neste meio. Porém ainda tinha algo que não estava me aquietando. Sentia muita falta daqueles cenários contemplativos, da natureza, da contemplação e daquele sentimento de liberdade que experimentei em outros tempos.

Mesmo morando em uma cidade mundialmente reconhecida por suas belezas naturais ainda as sentia muito distantes. Já incomodado com a rotina, foi quando repentinamente tive um insight, um estalo na cuca. Sei que estou ainda um tanto distante do matrimônio, visto que minha corrida pela estabilidade está no seu ápice e os frutos que hoje cultivo amadurecerão somente em futuras primaveras... O jeito então é comprar uma bicicleta! Foi aí que percorri todos estabelecimentos comerciais da Grande Florianópolis e fui parar numa tal de Ciclovil Bikes no bairro Campinas em São José e falei com um cara chamado João, que logicamente também curte umas pedaladas e seguidamente lhe faltava parcerias para pedalar.

Há pouco mais de um ano fiz minha primeira pedalada após quase dois anos sem subir numa bicicleta. Lembro que peguei a magrela na loja e me toquei deslumbradamente do continente (bairro Kobrasol) ao sentido sul da ilha, indo parar somente na beira da praia da Armação, estarrecido pela minha conquista. Cada pedalada era uma dor que me libertava e me fazia sentir a mesma criança que fui quando ganhei as ruas com a minha freestyle e suas rodas de nylon. No meu retorno, cada dor muscular se transformava em gritos de desabafo, de liberdade, de vitória. Não era por menos. Parado há tanto tempoe repentinamente pedalar 70km não é algo lá muito comum.


Desde então comecei a explorar cada estrada, cada trilha que esta grande Florianópolis me apresentava. Vezes sozinho (na maioria delas), vezes acompanhado passei a desbravar a região e buscar cada vez desafios maiores e morros mais desafiadores. Aos poucos fui sentindo minha evolução nos pedais, aprimorando as técnicas de mudança de marcha, pedalando com o pessoal mais experiente aprendi e continuo a aprender muito.




O ponto culminante foi quando percebi que tinha potencial inclusive competitivo. Conseguindo acompanhar grupos de alto nível aqui da região, o que me fez sentir cada vez maior confiança nesta prática. Assim, mais um universo se abriu no meu caminho. Universo este ainda muito incipiente e que me reserva infinitas surpresas, alegrias e ensinamentos.







Não posso esquecer que nesse entremeio todo pude conhecer pessoas maravilhosas, saudáveis e que assim como eu, anseiam em viver a vida plenamente e compartilham comigo muitas dessas alegrias de conhecer lugares novos, de ajudar e incentivar quando alguém está prestes a desistir, propor novos desafios e viver cada momento de forma leve a alegre.


 

 

Se alguém me perguntar por que eu ando de bicicleta, nem saberia por onde começar a responder. Acho que a melhor resposta seria... Pedalo porque busco sempre o desconhecido, porque busco sempre um novo desafio, porque quero ter um corpo e mente saudáveis, porque quero fazer cada vez novos e melhores amigos, porque quero contribuir para um ar puro para meus pulmões, porque quero ir onde minhas pernas possam me levar, porque pedalar me faz sentir criança, me rejuvenece, porque me emociona, porque tenho a contemplação da natureza como fonte de energia vital e de inspiração pra vida,  porque a vida é como andar de bicicleta... para se manter em equilíbrio é necessário estar em movimento. É por isso que eu pedalo!!!



 



Um forte abraço!!!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Pedalar é planejar surpresas e acabar sendo surpreendido

Dia 8 de agosto de 2010 ficará eternamente na memória como o dia em que aprendemos que erros podem dar certo, bem como o dia em que se confirmou o velho ditado: “Deus escreve certo por linhas tortas”.


Quando as 7:30 de uma manhã ensolarada eu aguardava ansioso pela chegada de Rodrigo, botávamos as bikes no transbike e pegávamos Alexandre em casa, tinha o pensamento de que estávamos saindo um pouco mais tarde do que deveríamos, considerando que tínhamos o intuito de viajar de carro e pedalar de Aiuré (comunidade vizinha de Grão Pará) até a Serra do Corvo Branco, em Urubici. Lá, de acordo com nossas condições físicas e o horário, decidiríamos se tocaria “acaveiradamente” até o magnífico Morro da Cruz ou daríamos volta. Bom, a seqüência de surpresas começou por aqui.

Não sei exatamente a troco de quê adentramos a BR-282 no sentido de Águas Mornas e Rancho Queimado. Ao passar pela Polícia Rodoviária nos informamos com o policial, digo, com os mapas que o policial nos concedeu, pois o mesmo sequer sabia por onde chegar até Braço do Norte que era a nossa referência para acessar Grão Pará. Percebemos então que “geograficamente” o caminho seria até mais curto do que se tivéssemos descido direto pela BR-101. O desconforto seria apenas um trecho de aproximadamente 50km de estrada de chão entre São Bonifácio e Rio Fortuna pela SC-431. De lá até Braço do Norte e Grão Pará chegaríamos em um piscar de olhos.

Porém, logo nos primeiros quilômetros daquela estrada de chão, percebemos que estes 50km seriam bem mais longos do que havíamos imaginado. Considerando também que já eram passadas 11h e o relógio não estava mais a nosso favor.

Enfim... O jeito é improvisar. Embora a estrada fosse ruim para passar de carro, a cada curva que passavam os três malucos do Continente divagávamos sobre a agradabilidade de percorrer aquele trecho pedalando. Em cada curva, em cada descida, cachoeiras e pontes sobre arroios. Então ecoou no ar: “Galera, o que vocês acham de, ao invés de voar ao “Corvo”, fazermos este percurso pedalando até o Rio Fortuna curtindo cada metro deste estradão?”


Aqui não tem tempo ruim e com estas parcerias a gente “tira leite de pedra”. Quando começou a pintar aquele clima de “iiih... melou”, foi o momento em que demos volta, estacionamos o carro no posto de gasolina do centro de São Bonifácio e começamos a “encilhar” os cavalos, digo, as bicicletas. Os cavalos éramos nós mesmos, tira a camisa, põe a de pedal, tira a calça de abrigo e põe a estofada de pedal, enche as caramanholas, mistura com isotônico e outra com VO2, luvas, capacete, câmaras reserva, bomba, espátulas, algumas ferramentas, regulagem de bancos, ajeita os faróis, pega um “troquinho” pra alguma eventualidade, enfim. Por alguns minutos fomos o centro das atenções de São Bonifácio naquele domingo de dia dos pais e partimos sorridentes em direção ao desconhecido. Nunca havíamos percorrido aquela estrada e estávamos prontos para o que der e vier. Tudo era lucro.




Nas primeiras investidas naquele chão inicialmente pesado pegamos de cara algumas subidas fortes. A conseqüência foi sofrer um princípio de pressão baixa. Claro né... Não fizemos aquecimento nenhum, estávamos a uma semana sem pedalar e sem qualquer outro exercício. Eu ainda com o rosto “costurado” em razão da queda na corrida em Termas do Gravatal há uma semana atrás e nos “atracamos” com toda a sede ao pote. Não há organismo que agüente. Paramos por alguns minutos, respiramos fundo, tiramos algumas fotos, algumas palhaçadas e risos e daí: “siiiiiiimbora cambada”.


A partir de então foi só alegria e gritos de contentamento perante aquela serra maravilhosa. Cruzamos rios, morros, pessoas sorridentes ao nos ver, aquele sol batendo em nosso corpo como uma benção divina. Filmamos algumas descidas do percurso e tudo estava perfeito.



Depois de rodar 20km de divinas estradas encontramos uma bifurcação que nos semeou um dilema. As possibilidades eram: para Vargem do Cedro dobre a esquerda; outra dizia “12km a esquerda, Fluss Hauss Café Colonial”. Mas e se formos pra direita, onde chegaremos? Pouco importa, não é? “Bora” ver qual é a desse café colonial. E como bons glutões, partimos ávidos por mais 12km num ritmo de dar inveja até a Lance Armstrong.


Caminhos simplesmente maravilhosos de percorrer, descidinhas deliciosas e subidas agre-doce, casinhas em estilo colonial com pomares, hortas e tudo que se tem direito.

Em meio àquela paisagem, eis que surge um oásis no meio do nada. Avistamos um estabelecimento de arquitetura alemã e uma multidão de pessoas defronte ao que dizia na placa: “FLUSS HAUS CAFÉ COLONIAL”.

Fluss Haus (Casa do Rio)



Maaaaaluco!!! Olha isso!!! Que pitoresco!!! Vamos dar uma olhada, no mínimo. Imaginem alguém vestido de astronauta no centro de Florianópolis, será que chamaria a atenção?!? Agora imaginem três ciclistas malucos e devidamente fardados adentrando a um recinto tipicamente familiar onde se encontravam pessoas dos mais variados lugares. Parecia que conhecíamos todo mundo. Era um “boa tarde” pra cá, um “como vai?” pra lá, um “opa” acolá, uma piscadelinha pra umas menininhas pra lá de simpáticas que estavam acompanhadas dos entes. Mas que lugar!!!




Neste pedaço do inesperado, encontramos um treinador de basquete que mora nos EUA, os estimados ex-sogros de um dos companheiros ciclistas (inimaginável!!!) e até mesmo uma família inteira de ciclistas. Isso mesmo, encontramos bikers muito mais rodados do que nós, porém, à paisana. Era a família do conhecido “Zé do Pedal” de Tubarão, um jovem senhor de setenta anos e a sua linda família. Quando uso este adjetivo, me refiro a beleza externa e interna. Gente que sabe viver com alegria e que descobriu a bike há seis ou sete anos e nunca mais pensou em parar. Fizeram por três anos consecutivos a volta na Serra de Santa Catarina, pedalando 300km por estradas de chão, morros e descidas de tirar o fôlego. Até mesmo as mulheres da família pedalam mais do que muito marmanjo gostaria de pedalar. Ficamos de marcar algumas aventuras em duas rodas em um breve futuro. Horas e horas de muita conversa e troca de contatos e informações pareceram ter passado em poucos minutos.


Eu e "Zé do Pedal": Quando crescer vou ser como ele. Grande exemplo de vida.



Atendimento a caráter.

Não preciso nem mencionar a esplendorosa culinária alemã que demorou muito tempo pra poder saborear um pouquinho das tantas opções que me faziam sentir como uma criança em um parque de diversões.

Era pastelão de palmito, de frango, massas, salames, queijos, sucos naturais, tortas de chocolate com damasco, de morango, de banana, de limão, era muuuuuuito rango!!!


Olha a alegria da criança.

Como verdadeiros “sem noção” comemos demais e o tempo passou voando. Até que, ao ir ao banheiro percebi, olhando pela janela, que o tempo estava um pouco fechado. Algumas nuvens e um pouco de vento frio começou a soprar e ainda tínhamos que “subir” todos os 32km que descemos até aquele maravilhoso estabelecimento.


Viver momentos como esse não tem preço.

Foi aí que resolvemos não “perder” mais tempo e nos tocar bem de vagarzinho no caminho de volta. Nos despedimos do pessoal, pegamos nossas bikes na casa do dono do café que nos cedeu sua garagem (éramos praticamente da família) e tocamos de volta.

Ao contrário do que pensamos, o retorno não foi tão árduo assim. O que foi pior era o filho que cada um carregava na barriga. Então fomos muito na “manha”, contemplando cada cenário por onde passávamos.

Chegamos ao “posto” de partida quando a noite já havia se anunciado, adrenalizados por tudo aquilo que havia acontecido.

O tempo que levamos pedalando foi de 1:35 para ir, 1:55 para voltar e algo em torno de 3:45 para comer e conversar. Valeu cada segundo!!!

Em nosso retorno a São José fomos lembrando cada uma das emoções e das lembranças, além de projetar com muito mais determinação as nossas futuras empreitadas pela serra catarinense.

Definitivamente o MTB nos reserva sempre algumas surpresas inesquecíveis, basta estarmos de coração aberto e de consciência tranqüila. O amor, as amizades, os lugares novos, as descobertas... Tudo isso faz parte do arcabouço que proporciona o MTB. Jamais teria conhecido pessoas tão extraordinárias como as que conheci em tão pouco tempo se não fosse por esse objeto tão simples e tão mágico de duas rodas pelo qual jamais deixarei de desfrutar.



Obrigado Rodrigo, obrigado Alexandre, obrigado a meu pai (Antonio) e a Deus por um dia tão especial como este.



Um grande abraço e até o próximo relato!!!



Leandro Karam

sábado, 7 de agosto de 2010

Relato da Etapa Sulbrasilis em Águas Mornas/SC - 13/junho

Aos amigos que não acompanharam a etapa anterior da Sulbrasilis MTB Maratona ocorrida no dia 13 de junho em Águas Mornas e para registro neste blog, aqui vai o relato daquela corrida a qual tive a alegria de ficar na 2ª colocação na categoria sub-30 e em 6º lugar geral. Boa leitura!!!

Gráfico altimétrico da prova: 1250m de subida acumulada.

"Quero aproveitar o ensejo para agradecer ao nossos amigos Rinaldo Show de Bola da Rocha e ao João da Ciclovil Bikes e toda galera do pedal continente que me deram um baita incentivo e assistência técnica e emocional pra corrida de hoje.




A corrida foi extremamente desgastante e intensa. Na largada todos foram num ritmo tranquilo os primeiros 5km, quando começava a estrada de chão batido e, numa pontezinha que era para entrar, quase passo batido. O pessoal da organização apontava uma seta para a direita aos que fossem fazer o percurso Pró de 50km e pra esquerda o percurso amador de 44km. Logo depois já veio o primeiro morro duma série que não parou mais de surgir até uns 25km percorridos. Muito barro e pedra nas subidas que derrapavam os pneus e mal saia do lugar no chão extremamente pesado. A esta altura lembrei que tinha pernas que andam bem no chão e empurrei a bike em alguns trechos bem críticos. Chega uma hora que a musculatura parece que entra em transe e começa a se acostumar de certa forma com aquele ritmo forte. Não adiantava nada me afobar de saída sabendo que o percurso quase todo ia ser assim. Deveria sim era impor o meu ritmo e segui-lo com empenho.


Da metade dessa primeira "morreba" até o topo (uma vista maravilhosa, por sinal) estava lado a lado com o terceiro colocado da minha categoria (sub-30). Mas quando despencou uns 10km sem parar e forçando as pedaladas com a bike quicando nas canaletas e pedras do caminho: sinal da cruz esquece q tem freio que pra baixo todo santo ajuda. É renovador e totalmente adrenalizante!!! No final do despencadeiro não avistava mais o 3º colocado. A segunda morreba veio pra fazer muita gente pensar "PQP, mas o queeeeeeee que eu to fazendo aqui?!"


Após uma árdua guerra de pensamentos internos de persistência e superação, eis que vem o segundo despenhadeiro. Aquilo foi uma das coisas mais lindas de viver. Passei mais uns 2 nesse entremeio todo (que não eram da minha categoria). Depois das ultrapassagens forcei o pedal ao máximo a fim de manter a posição até a linha de chegada.


Quando cheguei na parte asfaltada e sabia q faltavam apenas uns 5km. Ao dobrar a última curva vi a galera gritando "vem um laranjinha lá!" "é o gaúcho!!!" "É segundo!!!" "Caveiraaaaaaa!!!!". Putz!!!! O pedal continente é foda mesmo, com o perdão da expressão!




Baita festa, uma melancia que reidratou muito bem e depois uma geladinha com os amigos pra comemorar. Encerramos a aventura comendo um rodízio de massas no bairro Coqueiros. Eeeeita coisa boa!!!



Obrigado Rinaldo, Elyandro, João e todos do Pedal Continente!!! O dia de hoje foi inesquecível graças a vocês! E aguardo a caveirada de plantão a afiar a faca na caveira e vir conosco pros pedais das quintas feiras!

2º Lugar Sub-30 / 6º Geral

Um baita abraço !!!



Leandro Karam

terça-feira, 3 de agosto de 2010

MTB 2 Days em TERMAS do Gravatal - Relato de uma "desventura"

No último sábado, dia 31 de julho, tive a oportunidade de viajar a Termas do Gravatal para assistir a competição de MTB 2 Days organizada pela SULBRASILIS CORRIDAS DE AVENTURA. Em companhia de Rodrigo Rockfeller, membro do PEDAL CONTINENTE , tínhamos levado nossas bikes para, em princípio, fazermos algum pedal alternativos por aquela região cheia de estradinhas boas para um treino.



Ao chegar no local da prova e obter algumas informações sobre o as condições gerais do percurso fomos nos deixando levar pela empolgação e o desejo de participar do primeiro dos dois dias de prova previstos, mas de forma informal, sem pretensão nenhuma de êxito. Há algumas semanas sem condicionar o corpo pra uma prova como esta, fiz apenas algumas pedaladas de passeio e nenhuma musculação desde a última etapa, em Águas Mornas, tinha o propósito de meramente cumprir o trajeto em um ritmo de acordo com meu atual condicionamento.




Dada a largada as 15:30 eram em torno de 100 ciclistas colorindo as ruas da cidade e embrenhando-se em estradas de chão batido. As condições da estrada eram boas, com exceção de se tratar de chão batido com muita areia solta, o que significa que frear bruscamente não seria uma atitude muito exitosa, principalmente se tratando do que enfrentaríamos doravante.

Logo no quarto quilômetro de competição começava a pirambeira. Era uma subida seguida de outra ainda mais forte o tempo todo. Nesse trecho o pessoal foi se espalhando uns dos outros e fiquei pedalando junto com mais 3 competidores (um era da minha categoria sub-30) e íamos num bom ritmo. Algumas vezes ultrapassando alguns que quebravam no decorrer dos fatos. Ao chegar ao final da primeira das duas seqüências de subidas fortes tiveram algumas ondulações onde consegui me afastar de alguns e enxergar outros atletas de outras categorias que acabamos ultrapassando-os. Esta primeira seqüência de descidas foi fenomenal, atingindo 68,5km/h em algumas partes.



O segundo trecho de muita subida acumulada foi o momento em que o sangue começou a brotar nos olhos e induziu a forçar mais o rendimento. Em meio a um cenário bucólico magnífico uma e outra cãibra dividia minhas atenções entre rios e paisagens de realmente encher os olhos. Vinha subindo legal até chegar ao topo do último morro e começar o segundo e último despenhadeiro. Administrar a posição e cruzar a linha de chegada era o objetivo a partir de então.

O jogo se inverteu quando em uma descida excessivamente íngreme, estreita e escorregadia e eu com os pneus já sem todos os cravos da forma ideal para cumprir sua função acabei abrindo demais. Tentei frear mas derrapou e acabei  atravessando umas moitinhas na lateral da estrada e fui contido por uma cerca de arames farpados que protegia de um barranco com um enorme granito nada amistoso.

Ali meus óculos voaram sabe Deus pra onde, meu nariz e minha boca foram rasgados pelas farpas do arame e vários lanhos e hematomas brotaram dos braços, pernas, joelhos, pescoço, peito, etc... Com o rosto sangrando e com algumas dores fiquei com receio de continuar pedalando. Procurei meus óculos por alguns minutos mas não tive sucesso. Alguns competidores passavam por mim e perguntavam se tava tudo bem. Mas como se tratava de uma competição por tempo, não esperava que eles parassem pra me socorrer, mas sim que avisassem o pessoal dos staffs que tinha um ferido no caminho. Mas como no decorrer de quase 40km havia passado por pouquíssimos staffs, minha intenção de auxílio da organização do evento também não parecia muito próxima.

Um morador da região cruzou por ali de carro e se ofereceu pra ligar pra alguém e pedir socorro. Pôxa vida, cheguei até a pensar que ele me daria uma carona. Resolvemos pedir pra polícia tentar avisar a organização do evento sobre o ocorrido.

O tempo ia passando, as dores aumentavam e não vislumbrava ajuda emergencial. Então resolvi concluir os 5 ou 6 últimos km da prova e obter na linha de chegada este apoio médico tão esperado. Entre gemidos e lamentos fui pedalando na escuridão até cruzar por um veículo em outra descida e com os sentidos limitados escorregar numa canaleta da estrada e cair de peito no chão mais uma vez.

Sinceramente, meu desejo era de chutar e quebrar tudo o que visse pela frente, mas só conseguia emitir algumas onomatopéias desanimadoras.

Contar até mil, respirar fundo e continuar até o final. Não havia outro remédio. Avistei o pessoal que apontava o caminho certo de chegada e só ouvia “tu caiu?” ou “ estás machucado?” Daaaaaaime paciência.... preferi engolir minhas respostas a descer da bike e dar origem a mais uma depressiva matéria para o Hélio Costa.

Ao cruzar a chegada ainda esperei algo em torno de 10 a 15 minutos até o retorno de uma ambulância, pois ela havia saído para socorrer outro atleta que também sofrera uma queda e terminou com o saldo de uma aventura pra contar e um pulso quebrado.

Fico pensando cá com meus botões que se eu tivesse quebrado uma perna, por exemplo, estaria até agora lá sentado aguardando socorro. Minha sorte foi de ainda ter mínimas condições de pedalar mais um pouco. Outra questão é por que motivo a largada ser tão tardia a ponto de terminar a prova só a noite justamente com o trecho final tão perigoso e carente de iluminação e com tantas descidas extremamente inclinadas e com areia solta. Embora o percurso estivesse bem sinalizado, sugiro que tenha algum tipo de aviso nos trechos mais perigosos e, obviamente, maior número de staffs para proporcionar qualquer tipo de acessoria como água e rádios para comunicação com a organização. Como o amparo para um competidor que nos primeiros quilômetros deve ter caído feio e entortou completamente a roda da frente, mas logo o vi sendo carregado junto com sua bike pela equipe de fotógrafos.

Ao cruzar a chegada teve aquele momento de susto por parte de participantes e organização do evento, conversas, desabafos, alguma tensão quando um policial reclamou bastante sobre a precária estrutura de socorro e cobertura ao longo da corrida, aquele clima aturavelmente tenso... São pontos frágeis a serem aprimorados nas próximas competições.




Fui levado até o Hostpital de Braço do Norte, há 12km, onde fui devidamente atendido. Lá o médico limpou bem os ferimentos abertos, deu três pontos em meu nariz e mais três no lábio superior que rasgou por dentro também, fora o monte de agulhadas literalmente no meio da cara que até perdi as contas.

Rodrigão Rockfeller que tinha ficado no local da prova para guardar meus equipamentos e as bikes no carro foi ao hospital me buscar e dar aquele apoio moral indispensável nesse momento que adquiria mais uma eterna lembrança destas aventuras em duas rodas estampada em meu rosto.

Passando das 22h estava, enfim, liberado para desfrutar de meu lar-doce-lar. Porém, estava chovendo muito, estávamos absolutamente varados de fome, pois nem houve tempo de repor as energias e estávamos há uma centena de quilômetros de casa.

Tocamos direto até Laguna onde paramos para comer um “X-qualquer-coisa-urgente” em uma lanchonete. Entramos no estabelecimento causando espanto a qualquer pessoa que olhasse pra mim, incluindo este que vos escreve quando encontrei um espelho.

Chegamos em casa era pouco mais de 1h da manhã e nas piores condições. Ainda fui pra cozinha fazer um “carreteiro bem gaudério” pra calar a boca das lombrigas que berravam em coro por alimento.

Banho tomado, feridas limpas e devidamente tratadas, o corpo exausto do excesso de esforço e das dores das quedas, caí na cama e os pensamentos que me ninaram foram os seguintes....

Entre mortos e feridos estou vivo, feliz e com saúde. Sei que em uma semana tirarei os pontos, poderei recomeçar os treinos de musculação e em 2 semanas espero estar pedalando novamente com a raça toda e rindo do episódio aqui relatado.



Saber ponderar em terrenos que jamais percorri e que oferecem risco é essencial pra permanecer respirando sem a ajuda de aparelhos.

É necessário exigir a melhor estrutura de segurança possível por parte das organizações destes eventos, mandando emails, questionando, exigindo qualidade de alguma forma para que cada vez mais pessoas se animem a pedalar e a competir, evoluindo cada vez mais o cenário local em relação a MTB e promovendo este esporte.

E por último... Espero ansioso o recomeço dos treinos e a próxima prova pra mandar toda essa energia densa pra bem longe e poder compartilhar uma futura vitória com meus amigos e familiares. Saravá, meu Pai !!!!!

Um baita abraço e até o próximo relato !!!


Leandro Karam